sábado, 31 de março de 2012

E eu que passei anos a aprender cuidar do meu coração como se fosse pura poesia ou até mesmo como se fosse uma canção que mamãe insistia em cantar antes das sete, hoje mal sei o significado da palavra proteger. Cuidei, mas cuidei tanto de algo com formato bonito e cor avermelhada que por menos ou até por mais apetecia minha visão ingênua. Passava o giz com força por fora, para destacar sua cor um tanto bela e por dentro rabiscava até cobrir por inteiro, era como cortes profundos e que no fim era transbordado por tanto sangramento.

A primeira gota de suor acordou junto das borboletas que por mim um dia foi dado como falecida e se não me falha a memória era a primeira primavera seca, sem uma folha da cor, sem um barulho de galho nas calçadas e sem uma pétala rosada caída sobre o assoalho velho. O céu estava tão cinza que ouso-me a dizer que parecia uma disputa entre algo tão desejável e o concreto que havia dentro de mim.

Folhas mofadas de um baú antigo vinham em minha direção como se fosse um raio, era para atingir e rasgar-me por inteira. Poesias antigas, poesias novas, poesias que dançavam, poesias que rimavam e poesias que brincavam de felicidade, mas que sempre traziam consigo uma última lágrima. A xícara tremia junto de minhas mãos e os furos começavam a transbordar gotas generosas de um líquido que já não me restava muito.

Os adjetivos desgrudavam-se da folha mais antiga, era o nosso primeiro encontro e ele passeava sobre meu canteiro, seguindo a trilha da chuva e com mais um segundo já abria a porta dos fundos, encharcado. Entrava como se fosse de casa, ele era de casa.

“Venha, minha pequena. Corra.” — Corri, escorreguei nas gotas e entendi que o amor não passa de uma epifania chamada sangue. É apenas sangue. Sangue.

Larissa Linhares.

domingo, 25 de março de 2012


Eu perdi. Eu perdi toda a poesia que cantava dentro de mim.

A canção mais bonita não é mais sentida por quem a mais queria bem e a dedicava por um momento sua vida e a eternidade. Sinto falta de teus pés sapateando sobre meu estômago e brincando de quase debruçar-se por inteira em minha traqueia. O ritmo era gostoso e às vezes chegava a ser excessivo ao ponto de estourar umas das veias e assim quase causando-me um orgasmo indescritível. Podia sentir-se de tudo, desde as borboletas até o prazer mais desejado do romantismo. Por um instante infinito, era fácil sentir tantos retalhos encaixando-se pela alma tão pobre, mas agora me perdi. Eu perdi você.

Sugou até a última gota que corria em minhas veias e deixou este vazio incomum. Levou contigo minhas poesias e o que de mais belo eu tinha: O amor. Levou sem nenhuma dor a canção que só eu sentia e podia dançar, arrancou de mim a pureza que transparecia em meus olhos e se encharcava nos meus dedos e por fim arrancou a única aliança que ainda mantinha-me ligada a ti e a tudo que um dia fez-me ser eu mesma.

Como eu sinto tua falta, querido. Como eu sinto falta da tua poesia rasgando-me por inteira.

Larissa Linhares.

domingo, 11 de março de 2012

Amor,

Será que ainda posso lhe chamar assim? Ou será que já está um pouco ultrapassado? Não sei se você ainda gosta do nosso clichê, mas eu sinto falta dele e do modo como certas palavras vinda de você pareciam ser ditas com tanta verdade que por uns trilhões de segundos fizeram cada anoitecer e amanhecer meu ser único. Cada sorriso e olhar ser sincero e mais um bocado de coisas que hoje não cabe mais a mim.

Sabe meu amor, a cada dia que passa estou aprendendo mais comigo mesma, aprendendo a controlar a dor e aquele choro enjoado que até mesmo uma criança se irrita e os dramas repetitivos hoje em dia não acontece mais e aos poucos estou conseguindo falar sobre você e até mesmo ouvir o teu nome sem sentir aquelas pontadas fortes, mas certas vezes viro e reviro pela cama até um tombo forte fazer-me dormir feito um anjo. Eu fico completamente perdida ao tentar escrever sobre você, parece que tudo o que eu sinto ainda é tão forte que me faz ser incapaz de expressar.

Eu não sou mais aquela menininha fútil que armava um escândalo para chamar sua atenção e mostrar o quanto os sentimentos andam misturados, hoje eu consigo perfeitamente enxergar sua verdade e guardar todas as magoas dentro de mim sem precisar que o mundo inteiro saiba de algo tão ruim. Evitei tudo que trouxesse você de volta e apaguei todas as coisas que um dia poderiam fazer-me lembrar de ti e no final fiquei com as lembranças que todo dia, em alguma parte da noite volta para mim e por fim deparei-me com a pequena conclusão que tudo que já apaguei, que todas as músicas que hoje não ouço mais e todas as palavras ditas são nada perto de tudo que as lembranças me trazem.

O que mais me machuca são as coisas boas, elas não desgrudam da minha alma e confesso que às vezes largo tudo só para reviver elas sem ao menos saber se irá ser tão bom quanto à primeira vez e você não faz ideia de como eu fico boba ao ver que você apareceu por aí, mesmo sendo de uma forma indireta eu fico toda serelepe, pois só assim sei o quanto está bem e que tudo anda certinho para você.

Eu sinceramente não consigo escrever mais nada, perdoe-me por isso, mas você melhor do que ninguém sabe o quanto eu não suporto sentir dor.

Eu amo você.

Larissa Linhares.