E eu que passei anos a aprender cuidar do meu coração como se fosse pura poesia ou até mesmo como se fosse uma canção que mamãe insistia em cantar antes das sete, hoje mal sei o significado da palavra proteger. Cuidei, mas cuidei tanto de algo com formato bonito e cor avermelhada que por menos ou até por mais apetecia minha visão ingênua. Passava o giz com força por fora, para destacar sua cor um tanto bela e por dentro rabiscava até cobrir por inteiro, era como cortes profundos e que no fim era transbordado por tanto sangramento.
A primeira gota de suor acordou junto das borboletas que por mim um dia foi dado como falecida e se não me falha a memória era a primeira primavera seca, sem uma folha da cor, sem um barulho de galho nas calçadas e sem uma pétala rosada caída sobre o assoalho velho. O céu estava tão cinza que ouso-me a dizer que parecia uma disputa entre algo tão desejável e o concreto que havia dentro de mim.
Folhas mofadas de um baú antigo vinham em minha direção como se fosse um raio, era para atingir e rasgar-me por inteira. Poesias antigas, poesias novas, poesias que dançavam, poesias que rimavam e poesias que brincavam de felicidade, mas que sempre traziam consigo uma última lágrima. A xícara tremia junto de minhas mãos e os furos começavam a transbordar gotas generosas de um líquido que já não me restava muito.
Os adjetivos desgrudavam-se da folha mais antiga, era o nosso primeiro encontro e ele passeava sobre meu canteiro, seguindo a trilha da chuva e com mais um segundo já abria a porta dos fundos, encharcado. Entrava como se fosse de casa, ele era de casa.
“Venha, minha pequena. Corra.” — Corri, escorreguei nas gotas e entendi que o amor não passa de uma epifania chamada sangue. É apenas sangue. Sangue.
Larissa Linhares.
A primeira gota de suor acordou junto das borboletas que por mim um dia foi dado como falecida e se não me falha a memória era a primeira primavera seca, sem uma folha da cor, sem um barulho de galho nas calçadas e sem uma pétala rosada caída sobre o assoalho velho. O céu estava tão cinza que ouso-me a dizer que parecia uma disputa entre algo tão desejável e o concreto que havia dentro de mim.
Folhas mofadas de um baú antigo vinham em minha direção como se fosse um raio, era para atingir e rasgar-me por inteira. Poesias antigas, poesias novas, poesias que dançavam, poesias que rimavam e poesias que brincavam de felicidade, mas que sempre traziam consigo uma última lágrima. A xícara tremia junto de minhas mãos e os furos começavam a transbordar gotas generosas de um líquido que já não me restava muito.
Os adjetivos desgrudavam-se da folha mais antiga, era o nosso primeiro encontro e ele passeava sobre meu canteiro, seguindo a trilha da chuva e com mais um segundo já abria a porta dos fundos, encharcado. Entrava como se fosse de casa, ele era de casa.
“Venha, minha pequena. Corra.” — Corri, escorreguei nas gotas e entendi que o amor não passa de uma epifania chamada sangue. É apenas sangue. Sangue.
Larissa Linhares.